A globalização na política

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ricardomelo/2014/05/1449374-a-globalizacao-na-politica.shtml

ricardo melo
DE SÃO PAULO
05/05/2014

O texto abaixo refere-se a um telegrama de 14 de agosto de 1965, um ano e alguns meses após o golpe de 1964. Foi enviado pelo então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon. Reproduz conversas com o dono das Organizações Globo, Roberto Marinho. Ambos já morreram.

A transcrição do essencial do documento (o original na íntegra pode ser encontrado facilmente pelo Google) serve para muita coisa. Oferece aos que não usam a internet -sim, existem estas pessoas- o acesso a um instante da história que até hoje atormenta o país. Demonstra, também, que nem sempre as chamadas teorias conspiratórias representam fantasias. São muitas vezes práticas conspiratórias com nome, endereço e autores conhecidos.

Neste caso, de consequências trágicas, não deixa de ser espantoso ver uma liderança da “sociedade civil” ensinando um ditador a abolir eleições diretas para permanecer no poder. De graça não deve ter sido. As conclusões ficam a cargo do leitor.

*

“Para: Departamento de Estado 14 de agosto de 1965

Confidencial.

Este é um relato de um encontro extremamente confidencial com Roberto Marinho, publisher do ‘Globo’, sobre os problemas da sucessão presidencial. A proteção da fonte é essencial.

Marinho estava convencido de que a manutenção de Castello Branco como presidente é indispensável para a continuidade das políticas governamentais presentes e para evitar uma crise política desastrosa. Ele tem trabalhado silenciosamente com um grupo incluindo o general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar, general Golbery, chefe do Serviço de Informações, Luiz Vianna, chefe da Casa Civil, Paulo Sarazate, uns dos amigos mais íntimos do presidente.

No início de julho, Marinho teve um almoço privado com o presidente. Marinho achou Castello bastante resistente a qualquer forma de continuidade de mandato ou sua reeleição. Marinho também pediu a volta do embaixador Juracy Magalhães para ser o ministro da Justiça. Objetivo: ter Juracy como um possível candidato a sucessor de Castello e melhorar o funcionamento daquele ministério, cujo ocupante, Milton Campos, é extremamente respeitável, mas dócil demais.

No dia 31 de julho, Marinho teve um segundo almoço reservado com o presidente no qual ele insistiu que eleições presidenciais diretas em 1966 sem ter Castello como candidato poderia trazer sérios riscos de retrocessos. Tudo bem pensar em Juracy Magalhães ou Bilac Pinto como sucessores, mas a eleição deles não estava garantida. E a indicação, pelo PTB, do marechal Lott com uma plataforma abertamente antirrevolucionária e com o apoio dos comunistas ilustrava os perigos.

Marinho falou ao presidente que entendia o desejo de Castello de manter a promessa de deixar o poder no começo de 1967, mas se isso fosse feito ao custo de uma volta do Brasil ao passado, Castello estaria violando a confiança que a nação tinha depositado nele. Para Marinho, Castello deveria pesar as alternativas e riscos cuidadosamente. Embora Castello não tivesse indicado explicitamente, Marinho saiu satisfeito no final da conversa. Achou que o presidente não se oporia e mesmo daria sua colaboração a medidas que permitissem sua reeleição, provavelmente na forma de eleição indireta.

Nestas bases, o grupo planejou uma estratégia para transformar a eleição presidencial de 1966 em eleição indireta e viabilizar a candidatura de Castello Branco. Os próximos passos eram ganhar alguns membros chaves do Congresso tais como Pedro Aleixo, Bilac Pinto, Filinto Muller e líderes do PSD. Marinho enfatizou que muitos obstáculos inesperados poderiam surgir nesta estratégia, que com certeza terá a oposição de Lacerda por um lado e de forças antirrevolucionárias por outro lado.

Comentário. As colunas de fofoca política estão cheias de especulações sobre mudanças no regime. Eu considero as informações de Marinho muito mais confiáveis.

Lincoln Gordon.”

*

PS: E eram mesmo…

ricardo meloRicardo Melo, 58, é jornalista. Na Folha, foi editor de ‘Opinião’, editor da ‘Primeira Página’, editor-adjunto de ‘Mundo’, secretário-assistente de Redação e produtor-executivo do ‘TV Folha’, entre outras funções. Também foi chefe de Redação do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), editor-chefe do ‘Diário de S. Paulo’, do ‘Jornal da Band’ e do ‘Jornal da Globo’. Na juventude, foi um dos principais dirigentes do movimento estudantil ‘Liberdade e Luta’ (‘Libelu’), de orientação trotskista.

Confira lista de feeds do site da Folha

Confira lista de feeds do site da Folha

DE SÃO PAULO

16/01/2013 16h22 – Atualizadoem 27/08/2013 às 00h13

Editorias

RSSEm cima da hora
RSSOpinião
RSSPoder
RSSMundo
RSSMercado
RSSCotidiano
RSSEducação
RSSEsporte
RSSIlustrada
RSSFolhateen
RSSIlustríssima
RSSCiência
RSSAmbiente
RSSTec
RSSComida
RSSEquilíbrio
RSSFolhinha
RSSTurismo

Painel do Leitor

RSSPainel do Leitor

F5

RSSF5
RSSBichos

Classificados

RSSClassificados Veículos
RSSClassificados Imóveis
RSSClassificados Empregos
RSSClassificados Negócios

Empreendedor Social

RSSEmpreendedor Social

Publifolha

RSSPublifolha

Blogs

RSSA Biblioteca de Raquel
RSSAlexandra Forbes
RSSAndré Barcinski
RSSApperitivo
RSSAssim Como Você
RSSBlogay
RSSCacilda
RSSCafuné
RSSDigo Sim
RSSEntretempos
RSSFábio Bibancos
RSSFale Comigo
RSSFernanda Ezabella
RSSFrederico Vasconcelos
RSSFrom Brazil
RSSLuisa Belchior
RSSMarcelo Coelho
RSSMarcelo Katsuki
RSSMaria Inês Dolci
RSSMural
RSSNina Horta
RSSNovo em Folha
RSSOutro Canal
RSSPara Entender Direito
RSSRodolfo Lucena
RSSSamy Adghirni
RSSTec
RSSTeoria de Tudo
RSSThaís Nicoleti
RSSXico Sá

Colunas

RSS Adriana Gomes
RSS Aécio Neves
RSS Alexandra Corvo
RSS Alexandra Forbes
RSS Alexandre Schwartsman
RSS Alexandre Vidal Porto
RSS Álvaro Pereira Júnior
RSS André Barcinski
RSS André Singer
RSS Antonio Prata
RSS Barbara Gancia
RSS Benjamin Steinbruch
RSS Bernardo Mello Franco
RSS Carlos Heitor Cony
RSS Cláudia Collucci
RSS Clarice Reichstul
RSS Clóvis Rossi
RSS Contardo Calligaris
RSS Cristina Grillo
RSS Daniel Pellizzari
RSS Denis Kamioka
RSS Delfim Netto
RSS Denise Fraga
RSS Drauzio Varella
RSS Edgard Alves
RSS Eduardo Sodré
RSS Eliane Cantanhêde
RSS Elio Gaspari
RSS Evgeny Morozov
RSS Fábio Seixas
RSS Fabrício Corsaletti
RSS Fernanda Torres
RSS Fernando Rodrigues
RSS Ferreira Gullar
RSS Francisco Daudt
RSS Gilberto Dimenstein
RSS Gregorio Duvivier
RSS Guto Requena
RSS Hélio Schwartsman
RSS Heloísa Negrão
RSS Henrique Meirelles
RSS Humberto Luiz Peron
RSS Jaime Spitzcovsky
RSS Jairo Marques
RSS Janio de Freitas
RSS João Pereira Coutinho
RSS José Luiz Portella
RSS José Simão
RSS Juca Kfouri
RSS Julia Sweig
RSS Julio Abramczyk
RSS Kátia Abreu
RSS Keila Jimenez
RSS Kenneth Maxwell
RSS Lucas Longo
RSS Luciana Coelho
RSS Lúcio Ribeiro
RSS Luiz Carlos Bresser-Pereira
RSS Luiz Carlos Mendonça de Barros
RSS Luiz Caversan
RSS Luiz Felipe Pondé
RSS Luli Radfahrer
RSS Manuel da Costa Pinto
RSS Marcelo Coelho
RSS Marcelo Gleiser
RSS Marcelo Leite
RSS Marcelo Miterhof
RSS Marcia Dessen
RSS Márcio Rachkorsky
RSS Marcos Augusto Gonçalves
RSS Marcos Caramuru de Paiva
RSS Maria Cristina Frias
RSS Maria Inês Dolci
RSS Marina Silva
RSS Marion Strecker
RSS Martin Wolf
RSS Matias Spektor
RSS Maurício Stycer
RSS Mauro Zafalon
RSS Michael Kepp
RSS Michel Laub
RSS Mirian Goldenberg
RSS Moisés Naím
RSS Mônica Bergamo
RSS Natuza Nery
RSS Nelson de Sá
RSS Nina Horta
RSS Nizan Guanaes
RSS Painel
RSS Painel FC
RSS Pasquale Cipro Neto
RSS Patrícia Campos Mello
RSS Paul Krugman
RSS Paula Cesarino Costa
RSS PVC
RSS Raquel Cozer
RSS Raquel Landim
RSS Rita Siza
RSS Rodolfo Landim
RSS Rogério Gentile
RSS Ronaldo Lemos
RSS Rosely Sayão
RSS Rubens Ricupero
RSS Ruy Castro
RSS Sady Homrich
RSS Samy Dana
RSS Samuel Pessôa
RSS Sérgio Malbergier
RSS Sílvia Corrêa
RSS Suzana Herculano-Houzel
RSS Suzana Singer
RSS Tales Andreassi
RSS Teté Martinho
RSS Tostão
RSS Valdo Cruz
RSS Vanessa Barbara
RSS Vinicius Mota
RSS Vinicius Torres Freire
RSS Vladimir Safatle
RSS Walter Ceneviva
RSS Xico Sá